terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Trabalho

O trabalho enaltece!
Bradam do ócio
e do altar da ciência,
os detentores inglórios,
da sã sapiência.

Mas como que podem
definir, enarrar,
se sabem de tudo,
menos trabalhar?

São tão tolos,
levianos e incipientes,
Não percebem o abismo existente
Entre aqueles que pensam
E aqueles que sentem?

Digo que o trabalho escraviza!
E causa-me até ojeriza,
A execrável situação,
Que se encontram pelas ruas,
Os milhões de irmãos.

Irmãos da miséria,
Da desgraça, da solidão.
Fazem do chão onde o mundo pisa,
A mais simples cama, o mais frio colchão.

E tudo assim, modorrento, permanece...
Acenda tua vela, faça tua prece!
Quem sabe assim o mal se esvaeça,
Ou então mais fácil: você se esqueça,
Que enquanto dorme e a noite enegrece,
O tugúrio velado, cercando-os desce,
E aí já de nada adianta sua prece...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Da tristeza à realeza.

Se um dia, por exemplo,
Eu me quedasse ao relento
Sem mais me preocupar?

E com meus olhos sonolentos
Aproveitasse o momento,
Sem culpa ou penar?

Não quero que seja de cimento
as minhas bases, o meu pilar,
Que seja areia, que seja vento,
Que seja nulo o meu sustento,
Pois só quem finda o apresamento,
Vê-se livre para sonhar...

Ainda que não idolatre a tristeza,
Não busco a felicidade do leviano,
Nem o prazer d'uma hora daquele que ignora,
Fundo em minha alma, agora, tenho só uma certeza:
Mil vezes ser maltratado sob o julgo d'um tirano,
Que banhar-me em sangue humano só pra ser da realeza.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Racionalismo louvável

Acordei hoje cedo
Com uma imperiosa vontade de ser racional,
Já que não existe, nesse mundo tão igual,
Tristeza ou medo, e não é nem segredo
Que nunca houve degredo,
Nem forças opostas do bem ou do mal.

Tomemos como exemplo os moleques largados no chão,
São os mais vagabundos! (Seria absurdo dizer que não)
Olhe, por um momento, seus corpos imundos!
É pura preguiça de quedar-se em um pouco de água e sabão.

Veja lá, no cimento, o moleque sedento!
Que com um banal movimento faz voar o limão,
Que parábola mal feita, que péssimo lançamento!
Oh, inegável animal, como és desatento!

Mas veja que sorte, esse moleque não sofre
Das verdades e incertezas dessa vida tão dura,
Não trabalha, não sua!
E ainda por cima mora na rua.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Harmonia

Tenho em casa um punhado de palavras guardadas.
Tristes, modorrentas, fúnebres e veladas.
São todas expoentes da minha tempestuosa emoção;
De um grito, aflito, um sim ou um não.

Acontece que por mais nuves que queiramos enxergar,
O sol, algumas vezes, insiste em raiar,
E nesse exato momento onde a noite se faz dia,
É que perdem o valor as palavras de agonia.

Antigamente me fluiam palavras tristes,
Como flui, natural, o ar que respiro,
Uma bala, um tiro e à noite um suspiro.

Hoje já não encontro nelas mais nenhuma serventia,
'E olha que hoje chove como há muito não chovia'
De repente se fez ausente toda a harmonia
Que exisita entre elas e minha poesia.

Queria cantar o belo, o bonito e o alegre!
Mas o que é de fato puro não se canta,
Vê, percebe e sempre se espanta,
Pois a música é infinita quando com ela a gente dança.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

5 horas.

5 horas, chove como há muito não chovia,
Abrem-se capas e guarda-chuvas n'uma bizarra sintonia,
E o estrondo que faz a água no metal de meu telhado,
Me deixa retraído, sofrido, enclausurado...

Percebo porém, que o sentimento que me causa a chuva,
Ao invés de medo deveria ser culpa.
O que importa se me abalo com a eterna oscilação,
Fugaz, violenta, de mais uma paixão,
Se na rua, agora, jaz um ser, largado, no chão?

E esse ser é como eu um homem
Mais, poderia dizer,
Sofre de frio, de fome,
Enquanto o que me faz sofrer
não tem forma, nem nome.

Ele sofre mais...
Pois não é por viver largado na cidade,
Que pulse nele a vida como em animais,
Eles, heróis dos sinais,
Também amam, sofrem e sentem saudades.

Tenho mais em comum com esse homem
Que jamais ousaram imaginar,
Pois somos todos meros errantes,
E a comodidade que nos faz distantes,
Tem como areia seu fraco pilar...

sábado, 19 de setembro de 2009

Homem de flores

Branco, rosa e amarelo.
Tríade de cores divinas,
Que enfeitam a barraca de flores,
Sozinha, em minha esquina.

Em tal manancial de odores,
(do campo, de paz, de amores)
Não há nesse mundo, meus senhores,
Quem desconfie que por trás de lírios,
Exista tristeza, abandono e vazio,
Que fazem correr um rio
De pesadas lágrimas doces.

Por trás das vistosas flores,
existe um homem, uma história,
De cansaço, suor e temores.

O homem de trás das rosas,
ganha a vida fornecendo
O amor que lhe foi roubado,
Na forma de margaridas,
Sofridas... Sofrendo...
Sendo vendidas a idiotas,
Por um punhado de trocados.

Somos todos podres flores!
Que mimadas e relocadas,
Perdemos nossos valores.

Pois não são elas,
Arrancadas da firme terra,
Para enfeitarem, dentro de vasos,
As 6 bilhões de janelas?

De que importa, nesse mundo errado,
Nossas vidas e passados,
Se seremos sempre julgados,
pela beleza de nossos vasos?!

Mais ainda vivo de esperança,
Pois vale mais o barro suado
Que o diamante encravejado,
Para os olhos d'uma criança
Uma vez que o barro é solto,
Sempre a ser moldado,
Enquanto o diamante, travado,
É pra sempre estagnado,
Eterna fonte de dores...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pecado?

Um homem que guarda com devido louvor,
O humilde pedaço de pão bolorento,
Ouve assustado e com estopor,
As hienas circulando-o com seu grito nojento:
És podre, és pobre, pecador avarento!

E quando nosso amigo, feliz e contento,
Com sua companheira se amam ao vento,
Crocitam os corvos pungentes tala agulha;
És fraco, és crasso, és pura luxúria!

E o irmão do campo que todo dia se aleja,
A arar terra alheia com o estomago vazio,
Vê o senhor coronel, gordo em fastio
E ao comparar tal riqueza com sua vazia tigela
Chingam-lhe os urubus, parados na janela;
Pecador, imoral, lotado de inveja!

E ao comer sem descanço,
Com as mãos sua quentinha,
Silvam as cobras peçonhentas no canto,
Malogram a criança de vida tão dura;
És podre, nojento! Recheado de gula!

E aindo o irmão que labuta de sol a sol,
Rachando, incessante que a todos agita
Ouve triste o julgo do rouxinol,
Que magnâmio de cobiça, que estraga, ele grita;
Malandro, vagabundo, o que tens é preguiça!

E se uma noite inocente,
O irmão sente a porrada estridente,
Do monstro policial,
E enraivado o desarma e sem pensar atira.
Fala a sociedade, de sapiência infinita;
És crime, imagine... Caso de ira!

E dessa lista de sete,
De veracidade incerta,
Só um dentre todos os falta,
A soberba de todos, que sempre os testa!
Pois o irmão que se vê com devida prosperidade,
Faz sem pensar o que não lhe foi feito,
Vai às ruas dessa hedonista cidade;
Pra ver, viver, respirar caridade.

Então cabe à mim, a você ou a nós?
Julgar e descriminar sem ter porque,
O homem largado que vive à merce,
Sozinho, sempre, sob o manto lunar...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Meia vela

À luz da meia vela,
Um homem encurvado
Lê um livro desencapado,
Jogado n'um canto da cela.

Vê histórias de homem normais,
Que pela luta honraram a vida,
De fracassos e feridas,
De um jeito que já não se vê mais.

Meia noite, meia vela,
E a escassa meia tigela,
Traz a intragável comida singela,
Que alimenta um sonho inefável;

Meia noite no terreiro,
Onde batem mil tambores,
Que louvam os guerreiros
que suplantaram suas dores.

Cai o homem no açoite!
Cai junto também a noite,
Levando a calma embora,
Como um prelúdio que triste outorga
A chegada da aurora.

Meio dia, meia vida,
E um homem fatigado,
Ouve o escárnio desgraçado,
Do malogrado carcereiro.

Dia duro, dia inteiro,
E o trabalho que muitos consagra,
Esse homem só estraga,
A labuta dura e escrava,
Sob o olhar do carcereiro.

Volta a noite e no terreiro,
O batuque costumeiro,
Aumenta seus tambores,
Que inflam a ferida alma,
Do guerreiro do coração de magma.

Já vem noite, dez da noite,
E ao levantar seu podre chicote,
O carcereiro sente-se em choque,
Pois antagônico ao castigo mortal,
Que aplica banalmente,
Surge na mão do prisioneiro,
Um brilho de metal pungente!

E brandindo seu punhal,
O guerreiro ganha a noite!
E com o grito dos tambores fortes,
Faz repentino, um profundo corte,
Que acaba com a injusta sorte,
Do inverterado animal.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Poderia falar do leve beija flor que descreve sua trajetória,
Do ar mais puro do qual meu pulmão se enche,
Ou do confortável sangue que em meu corpo corre quente.
Porém, ainda que em tal ambiente, minha alma faz-se ausente,
Como também minha mente, presas à mais uma triste história,
De mais um dos sofridos, das milhões de urbes irrisórias.

Já não posso nem pensar no beija flor e sua trajetória,
Pois existe uma história, marcada de dor e glória, que é muito mais notória,
Do moleque sem casa, vulgo delinquente, marginal,
Que luta insistentimente, de sinal em sinal.

E a sensação mais sincera que senti em minha vida,
Veio dos olhos cortantes d'uma pobre menina, de fisionomia deveras sofrida,
Que indendente de tudo continuava a fuzilar-me com seu olhar,
Fazendo com que a torre mais imponente começasse a oscilar.

E naquele que pra mim foi o maior de todos os momentos,
As palavras, d'uma só vez, cairam no esquecimento
E exoneradas foram de todas as milhões de páginas.
Nessa inefável situação em que se embargou minha alma,
A única coisa que saiu da minha boca foi uma pesada e triste lágrima.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

E meio a gritos, buzinas e luzes,
Vê-se um homem deslocado,
que em seu dorso calejado,
carrega infinitas cruzes.

Devagar... calado...
Em seu caminho deturpado,
segue o homem a carregar
o lixo reaproveitado,
que vai se amontoando sem parar.

E após inúmeras ruas desbravar,
O homem permanece na luta a ofegar,
Porém, como o colibri abre as asas e começa a voar,
Seu cansaço, inimigo, começa a mudar,
E devagar, bem baixinho é que se ouve o assoviar.
Que cresce, crece, e é com devido espanto que ouve-se um cantar;

Embora muito tenha para sofrer e para chorar,
Sou feliz e por isso canto, e por saber transformar,
Na mais leve melodia todo esse meu pesar.
E tem gente que só chora, se afasta e se suplanta,
Faz isso porque não canta e se afunda em penar


E o morro deflagrado, do homem de outrora calado,
Faz imenso ao luar, com sua gente, sua vida, seu canto a soar.
E o homem que carrega o lixo alheio, de mais um dia sai inteiro.
E se sente o mais feliz do mundo! Com sua família toda noite, na mesa de jantar

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Suplício

E se de repente, retumbante como um raio,
Eu te olhasse de soslaio, e soltasse um grito estridente?
Que insistente arrebenta o que já não passa de cascalho,
E que nunca valeu nada, só a dor do irmão valente.

E seu parasse e dissesse que não?
Que não quero mais compactuar,
Não quero mais estar só, são.
E como quem pede perdão,
Nunca mais me deixasse levar.

E se n’um momento de perdição,
Do alto do meu prédio,
Eu achasse que o único remédio,
Era bater minhas asas(inexistentes),
E alçar-me em vôo (inconseqüente) inflado pela solidão?

Seria fraco! Seria podre!
Só mais um dos sofredores,
Que não agüentaram a pressão...

Então, me diga, vos suplico!
Qual a formula pra manter-se vivo,
Frente tanta desilusão?
É ignorar, tapar o ouvido?
Ou tirar o teto de quem já não tem chão?

No turbilhão avassalador,
Ao qual se entregou minha razão,
Perdi-me no caminho errado (ou certo),
De ter ousado gritar que não.

sábado, 22 de agosto de 2009

Cadeira de Palha

Como um fio eterno de chuva,
Constante em seu movimento,
É o entrelaçar da palha crua,
Que unida, ainda que fragil, fornece sustento.

Ví homens de muitas glórias,
Grandes e de espírito sedento,
Não obstante, meu sentimento,
Diz que são como poeira ao vento,
Todo seu leque de vitórias.

Ainda que, em muito, minha dor
Prejudique meu discernimento,
Vejo com muito mais amor o empalhador,
Que faz da calma seu instrumento,
Que o guerreiro em seu esplendor,
Que de tão grande apodrece por dentro.

Até as árvores e sua beleza gritante,
Padecem para serem semblante,
Da arte de trançar a palha,
E ainda que à poucos valha
A labuta do empalhador,
Seu brilho em mim tudo ofusca,
E faz-se infinito em valor.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Espanto

Se a lágrima que cai,
É o que a alma afugenta,
Minha vida se esvai,
Como a água voraz
Em noite de tormenta.

E se o grito que sai,
É o que a alma arrebenta,
Barulho já não faz,
O grito incapaz,
Que na garganta se assenta.

Mas se o olhar que brilha,
É o que alma alimenta,
Meu olho, antes molhado,
É tanta alegria,
Que não se agüenta fechado..

E se a voz que canta,
É o que a alma agiganta,
Minha antiga garganta,
Silenciosa em chorar,
De repente se espanta
Com criança que dança,
E a todos encanta,
Feliz a cantar.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Caleidoscópio II

Surge ao fim do horizonte,
O astro rei, eterna fonte,
Que faz claro todo o sombrio,
E traz calor a tudo que é frio.

Em mesmo corpo celestial,
Um milhão de variedades,
Uma para o seringueiro leal,
Outra para o nobre executivo da cidade.

Às 6 da manhã, desse inefável caleidoscópio,
Acordo o executivo com o berro de seu relógio,
Também acorda o operário, do ABC, da Praça da Sé,
Com o silvo matutino que faz o bule de café.

Na casa do gari,
livre, leve esperança,
Tem no abraço de sua criança,
A melhor razão para existir.

Já de pé e atrasado,
Logo cedo o empresário,
Desce rápido o elevador do prédio,
Engolindo a seco, sua pilha remédios.

Urge o tempo e apressado,
O executivo, recém acordado
de seu pesadelo de horrores,
Chora por uma voz que aplaque seus temores.
Mas a primeira voz que ouve é a da bolsa de valores.

Juntos, meus senhores,
Nesse perfume de infinitos odores,
Nessa marcha de mil corredores,
Vive o empresário e seus credores,
O executivo e seus temores,
E o operário e seus amores.

No paradoxo da vida e seus sabores,
Ouve-se o rufo dos tambores,
E a sapiência dos oprimidos:
Ao lado das mais lindas flores,
Também nascem podres espinhos.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O mundo visto por baixo

Tão grandes são os homens,
Vistos do andar de baixo,
Austeros e triunfantes,
E a ganância que os faz galantes,
Faz crasso o irmão errante,
Que se arrasta por pés descalços.

Um dia eu, guerreiro do asfalto,
Que da vida fui feito infausto,
Julguei-me apto a ser pensante;
Observei os podres gigantes,
Que com suas mãos ao alto,
Oravam por um Deus distante.

Perdoem a mim senhores, um ser ignorante,
Mas é que me passou por um instante,
Um pensamente instigante, sobre a vida dos gigantes.
Por que gritam aos céus, e a seu Deus da misericórdia?
Por que pede que outro resolva a desgraça que ele próprio forja?

Oh, gigantes, tão servis e bondosos!
Com seus ossos já nodosos,
De tirarem o alheio sangue.
Não lhes passa por um instante?!
Que suas rezas incessantes,
Não ajudam o irmão errante?

Esperam parados a solução. Cruéis!
E a benção do alto, celestial,
Pedem por Pedros, gritam Miguéis,
Enquanto um sem-nome, marginal,
Morre de fome a seus pés.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Brado da normalidade

Quero antes a pacata e justa
Beleza daquilo que é pouco,
Que a magnâmia beleza augusta,
Do desejo grande que se faz oco.

Infinitas vezes morrer na luta,
Daquele que tem tão pouco,
Que cercar-me em riqueza pútrida
E de tão podre, quedar-me morto.

Antes banhar-me na água suja,
Que repousar em banheiras d'ouro.
Melhor me saciar da água crua,
Que me afogar em teu tesouro.

Ainda que pouco posso dizer que é meu,
Minha alma corusca de orgulho.
Já a tua, glória e muro,
Algoz de seu tugúrio, é aquilo que te corrompeu.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

João

João era um homem normal, desde muito criança abismavam-se com sua pouca ganância, seus pacatos desejos, inefáveis anseios, de ter tão pouco. Indagavam-se todos sobre qual seria o problema daquele menino, dispensava presentes, não via o prazer da louca vontade de ganhar tudo, passava incontáveis horas soltando pipa, prazer que lhe foi arrancado devido à falta de competitividade, e por mais que tanto o estranhassem, era feliz. Por volta dos oito anos, as preocupações familiares começaram a tomar um tom no mínimo doentio; exames sendo feitos, horas de psicanálise, diferentes psiquiatras, para descobrir o que de tão errado abalava aquele menino. Menino que queria tão pouco. O status quo do problema fazia-se gritante nas irracionais modalidades de esportes e competições que o garoto era enfiado. Não que não gostasse das coisas que todos os meninos gostam, porém se via em João um prazer diferente, só dele, uma felicidade que paira, etérea, independente de vitórias ou derrotas. Tanto fizeram, tanto tentaram achar erros no menino, que finalmente o conseguiram. De uma criança calma e bondosa, João foi tornando-se um adolescente ganancioso, rude e prepotente, visto tanta insistência dos outros de o transformarem em um igual. O tempo foi passando e os mesmos psicólogos, psiquiatras que João era obrigado a freqüentar, tornaram-se imprescindíveis. Os problemas de outrora tão procurados agora vinham aos montes, surtos esquizofrênicos, complexos dos mais absurdos, ápices de bipolaridades, tanto, tantos problemas naquele menino que queria tão pouco. João cresceu, tornou um executivo brilhante, mantinha um hobby tão respeitável entre seus semelhantes, quando não estava no trabalho ou em galantes festas, apostava.em quase tudo. Só a sensação de ganhar o inebriava por um momento, como uma morfina para todos suas náuseas internas. O agora respeitável João vivia na alternância de carreiras de cocaína e fortes remédios para dormir, bebia incontáveis copos de café por dia. Fez grande fortuna, casou-se três vezes, 4 filhos, não sabia o aniversário de nenhum deles. O mais estranho disso tudo, e que João escondia como quem esconde um homicídio, eram os surtos, que vinham se tornando constantes, de choro e raiva que João sofria ao cair das noites. Quando as luzes deitavam-se, e ele se via sozinho no escuro, era abarrotado por um bilhão de arrependimentos, gritos, giros, até que ele dobrava a dose de seu fiel remédio. Por volta dos 50 anos, João atingiu o ápice de sua carreira, premiado executivo, capa de revista, ícone para os novos executivos. Agora freqüentava três psicólogos diferentes por vergonha de chorar tanto, dizer tanto, sofrer tanto diante de apenas um. Não era feliz, queria sempre mais, incansavelmente, suas autocríticas eram severas, queria sempre mais, sempre mais. Até que um dia, o agora chefe João, não apareceu no trabalho, acharam estranho, estranhíssimo para falar a verdade, todos os sete celulares de João davam desligado, não fora visto em nenhuma das suas casas de praia. Foram até sua casa, e devido velada porta trancada, chamaram um chaveiro e a arrombaram. Na cobertura duplex de João só se via móveis jogados, mesas reviradas, aparelhos quebrados, porém nada roubado. Até que subiram ao segundo andar, e o choque foi tremendo. João, o respeitável homem de negócios, o milionário João, soltava pipa sem ver ninguém, com o olhar vidrado e o corpo em constantes espasmos. Tentaram acalmá-lo, inutilmente, ele não via ninguém, balbuciava palavras incompreensíveis. João sofrera de um surto psicótico irreversível, razão? Cobrava-se demais, não dormia faziam duas semanas, virado à base de remédios e pó. João enlouqueceu porque queria muito. Logo ele, que só queria ser pouco.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Devaneios insanos?

No cintilar do lustre de cristal,
Um turbilhão de pensamentos,
Vidas, mortes, milhares de nomes,
Centenas de gritos e arrependimentos.

Na confusão da minha mente,
Me perdi pro infinito
Das angústias tão veementes,
Que se deflagram em meu grito.

E o cintilar dos podres vidros,
Me enlouquecem em um instante,
Pela ponta de seu brilho tão bonito,
Vejo escorrerem gotas de sangue.

Preso dentro do furacão,
Que me assola e me arrebenta,
Será a loucura a solução,
Pro eterno mal que me atormenta?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Curva do S.

Em terras ermas e distantes,
onde não mais canta o sabiá,
fez-se a lenda d'uma história viva,
De uma nação de errantes,
lá pros lados do Pará.

De certo que é gigante,
e lá tudo que se planta dá.
Mas por algum motivo instigante,
em terras tão abundantes,
falta terra pra quem quer plantar.

E há muito tempo atrás,
nessas terras tão distantes,
19 cavaleiros infantes,
eternos guerreiros gigantes,
banharam a terra de sangue,
Nas estradas do Pará.

Será a morte a compensação,
dessa empreendida tão arguta?
De fazer digna a vida,
de ter seu pedaço de chão,
por meio da própria luta.

E então, camará,
essa luta logo gerou medo,
nos latifundios tão grandiosos,
Porém temerosos em segredo.
Armaram-se e mobilizaram-se.
Um exército foi formado,
o animus necandi* comprovado,
para enfrentar os camaradas
que só se armaram com desejo.

E em uma tarde tão funesta,
uma tragédia que a lei não viu,
Onda tombaram 19 guerreiros,
E com eles seus anseios, naquele 17 de abril.

Foram esquecidos como homens,
Sem terras, sem nome.
E do 1 ao 19 foram numerados seus crachás,
N'uma marcha de 19 caixões, um milhão de corações:
Eldorado dos Carajás.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ilíada de cada dia

Minha vida não tem tese,
Minha alma é minha luz.
Minha certeza não existe,
O desconhecido me conduz.

O errado me atrai,
O certo não me seduz.
Vejo um herói em cada miséria,
Cada qual com sua cruz.

Fez-se belo o que é simples.
Vale nada o que reluz,
O que me inebria é o opaco
Que de fato, não precisa de luz.

Vale tudo o que me faz bem,
E a todos traz a calma,
Imaterial e impreciso,
Eterno e constante amigo
Àqueles que sofrem da alma.

Vi milhares de Messias,
Milhões de Maria Madalenas..
Guerreiros de todo o dia,
De vitória sobre a qual não se fizeram lendas.

Histórias inenarráveis,
De pouca fé e muita luta,
Que uma vida muito arguta,
Classificou como execráveis.

Ilíadas das mais belas!
De tantos milhões de Homeros.
Um gigante em cada favela,
Que sua vida defende aos berros.

Milhares de vagabundos,
Milhões de putas,
Largados na vida,
Veteranos de luta.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Baioneta

Tenho tudo pra parar, não nego.
Minha história me traduz,
Luto por minha vida, minha comida e por teto.
Minha arma é meu cetro,
Instrumento sagrado, soberano de luz.

De tudo fui excluído, sem qualquer compensação.
Vi os homens tornarem-se grandes,
Multiplicarem suas falanges,
Eternos braços de manipulação.

Vi de certo, olhos brilhantes.
Um brilho puro, eterno e constante,
Que só meus gigantes,
Trazem no fundo de seu coração.

Vi causas impossíveis tornarem-se redenção.
Guerreiros incríveis, batalhas invencíveis,
Virarem vitória no ato de um irmão.

O povo é o homem, um por um bilhão.
Na ponta da minha baioneta, sem hesitação
Escrevi pelo sangue, a história do homem:
A luta sem nome da minha libertação.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Brinde.

Brindo à vida, brindo à morte, e a todos seus sabores.
Pecados, tristezas e gritos,
Dos corações mais aflitos,
Que transbordam suas dores.

Brindo aos erros e desvios do caminho,
A felicidade inefável do fracasso,
De quem almejou muito e exagerou no passo,
Por ter sido tão mesquinho.

Fatiga tentar desvendar,
Tudo que nos é presente,
Como a razão da vida, o próprio respirar,
Ou uma paixão que forte se sente.

Devagar e com fluidez,
Sem fazer de tudo um furacão,
Olhar pra trás e saber que não,
É só pó o que se desfez.

Brindo a tudo, brindo a todos,
De escravos a senhores,
De amigos a credores,
Que como um turbilhão de cores,
Fazem-se brancas ao infinito.

Brancas, brandas como é o vento,
Eterna brisa de amor,
Que leva embora a minha dor,
Para desembocar no esquecimento.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Como sol e lua

Ser o senhor da verdade, juiz da moral
Transcende o que me é palpável,
Aglutinação inexorável,
Entre bem é o mal.

Palavras proferidas, como flechas envenenadas,
Levam consigo o julgo, perene nas madrugadas,
E talvez seja quando a luz vai embora, e a sombra se faz pesada,
Que nos tornemos reais, sem qualquer tipo de charada.

Como o sol e a lua,
Constantes em seu movimento,
Rodando, sempre distantes, transladando pelo firmamento.
É o que sou e o que penso, dicotomia inefável, epopéia inenarrável,
Responsável por meu sofrimento.

Numa marcha constante, no desgosto do quase-feito,
Desmanchou-se o que era vivo, em um sonho todo perfeito.
Fujo, canto e choro todo meu descontentamento,
Pra sempre incompleto, fadado a ser fragmento.

domingo, 14 de junho de 2009

Gritam-me as estátuas do museu mundial dos vividos:
''A vida não é emoção, é habito, é ser corrompido.''
Gemem suas nostalgias, perenes e enjoadas,
São apenas arrependimento, de terem se vendido por nada.

Susurram que viver não é paixão,
E sim ser treinado e ir se acomodando,
Para que no final esteja a andar do jeito todos outros andam.
Não se se me enervo ou acho graça, frente a tanta desilusão,
Estátuas, podres estátuas, recheadas de solidão.

Sua malograda infelicidade, vem por suas palavras tão sofridas:
''Aproveita agora menino, é a melhor fase de toda a vida''
Como é que podem sentenciarem-se a tão profundo degredo?
Esbanjam suas qualidades, porém morrem em segredo.

Suas maldições me atingiam, enloqueciam-me por um momento.
Porém hoje já não as escuto e sigo com a cabeça erguida,
Enquanto o que corre em mim é vida, o que as preenche é só cimento.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Trança de vida

Olho pros lados na procura por ajuda,
Só vejo sombra, que profunda perdura.
Na noite augusta, que atacados em lança,
São todos aqueles que dançam na trança,
E lhes vem à cabeça, lhes choca, espanta,
Um grito, d'um canto, luta por esperança,
Transmitidos no choro infeliz d’uma criança.

E o que mais me deprime, não é a maldade que devagar se semeia,
É a falta de coragem, opressora, que rodeia.
De gritar, ir a luta, por tudo que anseia.

E essa roda infinita, que abafa, limita,
Que a todos atrai, algoz aconchego,
Àqueles que cedo, já sofrem por medo,
E deixam-se rodar, e controlar a vida.

Necrose premeditada, que mata amansando.
A alma, a vida e todos os sonhos.
Trocados por uma reta, invariável.
Para sempre constante, inexorável.

Como um corredor que corre sem parar
Que olha a seu lado, e se vê rodeado,
De um tempo nublado, n’um horizonte fechado.
E a angustia aumenta, quando o silêncio enfrenta
O grito de medo, que na garganta se assenta.

E vê sua vida, seu mundo, tudo acabado.
E é devagar que rola, uma lágrima salgada,
Pela pálpebra aberta de uma pupila fechada.
Sente-se preso, por todo acorrentado,
E devagar lança um olhar ao passado,
E sua angustia é tanta, que se sente roubado.
Pois vê apenas um final infeliz, de um filme alugado.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Vazio.

Só queria que alguém visse tudo aquilo que não foi dito,
Que na garganta agarrou e dissipou-se pro infinito.
O que a na caneta entupiu e que nunca foi escrito.

sábado, 16 de maio de 2009

Era nada, só fluidez,
corria pelos campos como quem respira muito fundo
Por saber ser a ultima vez.
Correndo era livre, era só possibilidades,
Esquecia da pobreza e de todas suas necessidades.

Não tinha nome, endereço ou idade,
Era apenas por ser, extintas todas mediocridades,
Tudo era música a seus ouvidos, reinava plena a felicidade.
E de repente aquele barulho, acordava-o na madrugada.
Vinha o cheiro do lixo, a solidão e o frio da calçada.

E a música que o acalmava, tornara-se seu tormento.
Estridente como um trovão, mudava tudo em um momento.
A sirene malograda, e o turbilhão de sentimentos.
Daquela noite tão triste, que fora pego pela primeira vez.
Por que? Ele se perguntava, se nada tinha feito.
Não obstante, batiam-lhe, e riam com seus risos nojentos.

Socos, pontapés, vinham de toda direção,
Porém não soltara um grito, ou qualquer exclamação
A raiva que sentia suplantava seu horror,
Batiam-lhe sem motivos, só para infligirem-lhe dor.
Desgraçados, amaldiçoara-os todos, do âmago de sua humilhação.

Enquanto tantos roubavam e matavam o povo,
Por que ele, que era só um garoto?
Que vontade de gritar, de acabar com tudo isso,
Para os piores a impunidade, para os pobres pura maldade.
Sentia-se ruir em torno desse conflito.

Era mais pena do que raiva, o que ele sentia.
Do fundo da sua desgraça, parava e refletia.
Sobre a desgraça por todo o mundo, mascarada em hipocrisia.
Sobre a humanidade e seus tugúrios,
Tais como um fruto podre, que por fora vai ficando duro.
Mas uma chama o mantinha vivo, e alimentava-o a cada segundo.
Por mais que eles tentassem, ninguém mata o futuro.

E aceitava sua dor, e toda humilhação,
Se servisse de exemplo e acordasse toda a nação.
Era mais um pobre que morria, sem dó ou compaixão.
Morreu com um sorriso estampado, e leve de coração.
Morria por seu povo, pela causa, por seus irmãos.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Veja bem querida, ninguém é melhor que ninguém.
Não é a extensão d’uma conta que valoriza o homem
Não é nem mesmo a sua família, ou seu famoso sobrenome,
Muito menos sua superioridade a todos aquém..

Quisera eu, poder falar das coisas bonitas que a todos rodeiam,
Das rosas, dos pássaros que com seus cantos gracejam.
Porém não posso, infelizmente
Visto que, no frio da madrugada, inexoravelmente
Padece um infeliz, guardado por uma sacada.

E quebra a cabeça, e sua precária educação.
Como que pode um morrer de fome
Enquanto outro tranca comida n’um galpão.
Simples, sem rodeios ou enganação.
Simples é o que nos alimenta, simples é o pão.
Crápula, nojento, é o que pensa só em si a todo momento.
Completamente consciente, que pra seu maldito sucesso,
Vivem mais de cem, com fome, sem teto.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Diálogo de classes.

Saí da minha porta, desocupado
Que eu não to nesse mundo pra sustentar vagabundo
Moleque de rua animal, ladrão e viciado.
Toma rumo nessa vida, vê se parte, desaparece.
Saí, vai correndo, antes que eu me estresse.

O que eu quero não é dinheiro, não é pena nem tua prece.
Quero viver nesse mundo, que me rotula de vagabundo
E o que pra eles é brilhante, pra mim é tudo imundo.
Já to indo sim senhô, não mais me demoro em sua sacada
Vou com pressa vou correndo, talvez assim o senhor me esquece.

Minha lamuria e minha dor, é mais que frio e que a fome.
E só queria sabe porque eu nada posso, nem ser chamado de homem.
Não posso nem morrer de fome pois corro risco de virar destroço,
Ir para numa latrina, ou virar alimento dos urubus que pairam lá em cima.
Ou então sentados na praça, apreciando minha desgraça e rindo de minha carnificina.

Me desculpa, o menino, não queria te magoar.
É que to muito estressado, muita conta pra pagar.
A TV nova da sala, e também o carro do ano.
To que não agüento, preocupado, quase enfartando.

Não se desculpe não senhor, nada tem que se desculpar
Afinal, é preocupado com suas contas a pagar.
De tudo que é novo, seu luxo tão gostoso.
Que são tão mais importantes, que a vida de um garoto.
Continua a sua vida, sem ao menos me lembrar,
Sou um podre, não valho nada, nem se esforce em me ajudar.
Quem necessita é seu filho, que ta sem carro pra passear.
Ate porque eu só passo fome e vivo sozinho, enfurnado em meu esgoto.
Sem amparo, sem carinho, sem amor, puro desgosto.

Não tenho o que dizer...

Não diga nada, não se envergonhe,
Pois a jacuzzi que lhe banha,
E a mesma que me faz ter fome.
Que é a fome de um mendigo, um safado que nem tem nome?
To acostumado com essa desgraça, já nada mais me espanta
Nem a soberba que te sustenta ser a mesma que me suplanta.

Vou-me logo, vou de vez, pra que não se incomode mais.
Sou um a toa um safado, sou o próprio Satanás.
Não posso estragar tantas vidas, dos senhores e do Messias que tanto mal me faz.

Sou só um Zé ninguém, como eu tem mais de mil
Nesse país de natureza tão grande, pátria amada, Brasil...

domingo, 5 de abril de 2009

Direito

Que direito que tens, e que aparentemente me falta
De por e se impor, de mandar nessa terra farta
E por ela bradar sua voz insincera,
Como se tudo que a habita fosse apenas uma parte de tudo que impera.

Que direito que tens, de ter mais do que eu
De viver na opulência, perdido entre os seus
Enquanto na rua vive, como você um homem, sem dinheiro e sem nome
Que chora e grita, a desgraça da sua vida, desgraça infinita, agravada pela fome.
Fome de ser e viver tal gente, sem ter que implorar ou fingir ser crente,
Da bondade dos ricos, de suas doações e de sua bondade aparente.

E a discrepância o agita, o ferve, o frita
E a raiva é tão grande que de repente ele grita.
Contra tudo isso, que tanto o irrita.
Ao mesmo tempo que brada, uma lagrima lhe caí
Pois percebe que na calçada a vida se esvai,
Do seu filho sem nome, sem nada tal o pai
Despede-se da vida, e morre de fome.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Voando

De memórias já tão gastas,
De um sonho hoje realizado.
Como era melhor quando o almejava,
O que hoje havia conquistado

Conquista talvez não defina,
O patamar onde hoje se encontra
Visto que vale deveras mais o mendigo na esquina
Que a extensão de sua conta.

Cercado de tanto luxo, assiste triste essa hora
Que tangenciado pela ilusão, vê-se por completo ir embora
E a impotência o definha, visto que era lindo o que tinha.
E que de bom grado deu em troca por um malogrado punhado de notas.

Seu arrependimento é tão grande, tão forte e tão intenso
Que não há mesmo tempo, que o posso tornar isento desse maldito [sofrimento.
A morte é como saída, como que resto de dignidade.
É de todo livre que se sente, quando não mais que de repente, dá adeus a [sobriedade
E a visão que tem do chão, de fato será bem guardada,
Pois é livrando-se dessa prisão, que alça vôo pela sacada.

domingo, 1 de março de 2009

E seu braço estendia, incansavelmente
A todo e qualquer transeunte, da alma morta,
do rosto contente. E a toda gente, que passava e ria, sem nem escutar o que o menino pedia.

Ele sonhava que um dia, cada um deles se arrependeria.
Visto que, minha tia, a suplica que ele fazia, não era afrontosa, muito menos com ironia, que a lagrima caia, no começo da pagina de uma vida tão triste.

E com seu dedo em riste, sua espada ele apontava
Sua raiva saia, sua voz bradava, o malfadado absurdo, desse tão belo mundo, de só sobrar ao menino sujo, o tão presente julgo.

Agora ele sabia, porque todos fingiam que ele não existia, não era por medo, muito menos por pressa,
Era a consciência que pesava, a vontade que chegava, de dar um fim nesse mendigo
Que poluía suas calçadas com seu triste gemido.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Amanda

O nome dela era Amanda, já passava dos trinta
Vida pacata, vida bonita
Casada, mãe de dois e crente.
E tão de repente, apareceu na sua frente
Um fantasma do passado em forma de gente,
De um tempo não recente, de dúvidas freqüentes.

Então Amanda, que era tão regrada
Se viu estagnada, diante então d’uma homérica bifurcação
Povoada de tanta expectativa, que escolha tinha?
Livrou-se de tudo, largou a batina.
E sem olhar pra trás, virou a esquina.

Pra seguir em frente, com sua antiga paixão
Pra tocar a vida, sem pensar no perdão
Que mais tarde pediu, quando triste se viu
Mais uma vez sozinha, chorando e abandonada
Tão decepcionada, o remorso, uma facada.

Porque então João, sem nem pestanejar
Mandou Amanda de volta pro lugar d’onde nunca tinha de ter saído.
Agora o perdão povoa seus pensamentos, a todo momento, seus olhos caídos
Choram e sofrem por terem traído, e tão tolamente
Terem sido seduzidos, por uma vontade em vão
Que um tal de João plantou em seu coração.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Uma tragada a menos

Como uma vida que se esvai
N’um tempo tão ameno.
Vejo a chuva cair
Tal vida como sereno.

viVer mais do que já vi?
Em um mundo tão pequeno,
ela indo pela sarjeta.
Uma tragada a menos...

Por que continuar do jeito que vivo?
Gemem as janelas, num gemido oprimido
Dentre um dos milhares, de prédios espremidos

E lá de dentro ruminando,
a náusea vem subindo
de todas as falagens de nosso batalhão.
Grandioso, sempre dormindo..

Devagar se ouve o sussurro,
Devagar ele vira voz,
Voz minha, sua, de todos nós.
Da união dessa voz,
Ouve-se o undíssono grito

Será que vale a pena queimar até o filtro?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

E que fiz eu de errado?
Tão cedo, prematuro, já acabado.
Que parcela da culpa me pertence,
Culpa de ter nascido sem berço,
Visto que nem um terço, de toda essa gente
Que fala e que esbanja, vive contente.

E de toda opulência e hedonismo,
O que resta?
Da sua magnífica festa, à simples criança
Que mesmo sofrendo, canta e dança.

Por viver sim, e não por ser membro
Dessa maldita trança, que roda roendo
Hermética, tão presa, matando e morrendo

Em seu castelo de vidro, cristal aparente
Que mal que fiz, a toda essa gente?
Que mal posso ter feito, se meu único defeito
Foi viver a parte, do seu mundo perfeito.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Caleidoscópio.

Eu quero a vida leve de uma alienação pesada
Sempre presente de uma vida passada.
Gozar das memórias de tudo que não foi feito
Montando pra sempre um passado perfeito

Caleidoscopiando tudo de errado
Um ato infeliz, um sentimento exacerbado.
Assim então, edênico seria
Imutavelmente anestesiado contra toda agonia
Descendente de tudo, de toda hipocrisia

De tudo que se move, move e pensa
Que em tudo compensa, com ajuda da crença,
A sua mente propensa, deveras intensa,
E qualquer que pensa, caí em seu julgamento.

Mas chega certo momento, quando sê vê
Que o nada é perfeito e que tudo é errado
Fatídico sim, fortemente comprovado
Pela tristeza de uma criança, pelo apego ao
passado.