sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Amanda

O nome dela era Amanda, já passava dos trinta
Vida pacata, vida bonita
Casada, mãe de dois e crente.
E tão de repente, apareceu na sua frente
Um fantasma do passado em forma de gente,
De um tempo não recente, de dúvidas freqüentes.

Então Amanda, que era tão regrada
Se viu estagnada, diante então d’uma homérica bifurcação
Povoada de tanta expectativa, que escolha tinha?
Livrou-se de tudo, largou a batina.
E sem olhar pra trás, virou a esquina.

Pra seguir em frente, com sua antiga paixão
Pra tocar a vida, sem pensar no perdão
Que mais tarde pediu, quando triste se viu
Mais uma vez sozinha, chorando e abandonada
Tão decepcionada, o remorso, uma facada.

Porque então João, sem nem pestanejar
Mandou Amanda de volta pro lugar d’onde nunca tinha de ter saído.
Agora o perdão povoa seus pensamentos, a todo momento, seus olhos caídos
Choram e sofrem por terem traído, e tão tolamente
Terem sido seduzidos, por uma vontade em vão
Que um tal de João plantou em seu coração.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Uma tragada a menos

Como uma vida que se esvai
N’um tempo tão ameno.
Vejo a chuva cair
Tal vida como sereno.

viVer mais do que já vi?
Em um mundo tão pequeno,
ela indo pela sarjeta.
Uma tragada a menos...

Por que continuar do jeito que vivo?
Gemem as janelas, num gemido oprimido
Dentre um dos milhares, de prédios espremidos

E lá de dentro ruminando,
a náusea vem subindo
de todas as falagens de nosso batalhão.
Grandioso, sempre dormindo..

Devagar se ouve o sussurro,
Devagar ele vira voz,
Voz minha, sua, de todos nós.
Da união dessa voz,
Ouve-se o undíssono grito

Será que vale a pena queimar até o filtro?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

E que fiz eu de errado?
Tão cedo, prematuro, já acabado.
Que parcela da culpa me pertence,
Culpa de ter nascido sem berço,
Visto que nem um terço, de toda essa gente
Que fala e que esbanja, vive contente.

E de toda opulência e hedonismo,
O que resta?
Da sua magnífica festa, à simples criança
Que mesmo sofrendo, canta e dança.

Por viver sim, e não por ser membro
Dessa maldita trança, que roda roendo
Hermética, tão presa, matando e morrendo

Em seu castelo de vidro, cristal aparente
Que mal que fiz, a toda essa gente?
Que mal posso ter feito, se meu único defeito
Foi viver a parte, do seu mundo perfeito.