quarta-feira, 15 de abril de 2009

Diálogo de classes.

Saí da minha porta, desocupado
Que eu não to nesse mundo pra sustentar vagabundo
Moleque de rua animal, ladrão e viciado.
Toma rumo nessa vida, vê se parte, desaparece.
Saí, vai correndo, antes que eu me estresse.

O que eu quero não é dinheiro, não é pena nem tua prece.
Quero viver nesse mundo, que me rotula de vagabundo
E o que pra eles é brilhante, pra mim é tudo imundo.
Já to indo sim senhô, não mais me demoro em sua sacada
Vou com pressa vou correndo, talvez assim o senhor me esquece.

Minha lamuria e minha dor, é mais que frio e que a fome.
E só queria sabe porque eu nada posso, nem ser chamado de homem.
Não posso nem morrer de fome pois corro risco de virar destroço,
Ir para numa latrina, ou virar alimento dos urubus que pairam lá em cima.
Ou então sentados na praça, apreciando minha desgraça e rindo de minha carnificina.

Me desculpa, o menino, não queria te magoar.
É que to muito estressado, muita conta pra pagar.
A TV nova da sala, e também o carro do ano.
To que não agüento, preocupado, quase enfartando.

Não se desculpe não senhor, nada tem que se desculpar
Afinal, é preocupado com suas contas a pagar.
De tudo que é novo, seu luxo tão gostoso.
Que são tão mais importantes, que a vida de um garoto.
Continua a sua vida, sem ao menos me lembrar,
Sou um podre, não valho nada, nem se esforce em me ajudar.
Quem necessita é seu filho, que ta sem carro pra passear.
Ate porque eu só passo fome e vivo sozinho, enfurnado em meu esgoto.
Sem amparo, sem carinho, sem amor, puro desgosto.

Não tenho o que dizer...

Não diga nada, não se envergonhe,
Pois a jacuzzi que lhe banha,
E a mesma que me faz ter fome.
Que é a fome de um mendigo, um safado que nem tem nome?
To acostumado com essa desgraça, já nada mais me espanta
Nem a soberba que te sustenta ser a mesma que me suplanta.

Vou-me logo, vou de vez, pra que não se incomode mais.
Sou um a toa um safado, sou o próprio Satanás.
Não posso estragar tantas vidas, dos senhores e do Messias que tanto mal me faz.

Sou só um Zé ninguém, como eu tem mais de mil
Nesse país de natureza tão grande, pátria amada, Brasil...

domingo, 5 de abril de 2009

Direito

Que direito que tens, e que aparentemente me falta
De por e se impor, de mandar nessa terra farta
E por ela bradar sua voz insincera,
Como se tudo que a habita fosse apenas uma parte de tudo que impera.

Que direito que tens, de ter mais do que eu
De viver na opulência, perdido entre os seus
Enquanto na rua vive, como você um homem, sem dinheiro e sem nome
Que chora e grita, a desgraça da sua vida, desgraça infinita, agravada pela fome.
Fome de ser e viver tal gente, sem ter que implorar ou fingir ser crente,
Da bondade dos ricos, de suas doações e de sua bondade aparente.

E a discrepância o agita, o ferve, o frita
E a raiva é tão grande que de repente ele grita.
Contra tudo isso, que tanto o irrita.
Ao mesmo tempo que brada, uma lagrima lhe caí
Pois percebe que na calçada a vida se esvai,
Do seu filho sem nome, sem nada tal o pai
Despede-se da vida, e morre de fome.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Voando

De memórias já tão gastas,
De um sonho hoje realizado.
Como era melhor quando o almejava,
O que hoje havia conquistado

Conquista talvez não defina,
O patamar onde hoje se encontra
Visto que vale deveras mais o mendigo na esquina
Que a extensão de sua conta.

Cercado de tanto luxo, assiste triste essa hora
Que tangenciado pela ilusão, vê-se por completo ir embora
E a impotência o definha, visto que era lindo o que tinha.
E que de bom grado deu em troca por um malogrado punhado de notas.

Seu arrependimento é tão grande, tão forte e tão intenso
Que não há mesmo tempo, que o posso tornar isento desse maldito [sofrimento.
A morte é como saída, como que resto de dignidade.
É de todo livre que se sente, quando não mais que de repente, dá adeus a [sobriedade
E a visão que tem do chão, de fato será bem guardada,
Pois é livrando-se dessa prisão, que alça vôo pela sacada.