segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Caleidoscópio II

Surge ao fim do horizonte,
O astro rei, eterna fonte,
Que faz claro todo o sombrio,
E traz calor a tudo que é frio.

Em mesmo corpo celestial,
Um milhão de variedades,
Uma para o seringueiro leal,
Outra para o nobre executivo da cidade.

Às 6 da manhã, desse inefável caleidoscópio,
Acordo o executivo com o berro de seu relógio,
Também acorda o operário, do ABC, da Praça da Sé,
Com o silvo matutino que faz o bule de café.

Na casa do gari,
livre, leve esperança,
Tem no abraço de sua criança,
A melhor razão para existir.

Já de pé e atrasado,
Logo cedo o empresário,
Desce rápido o elevador do prédio,
Engolindo a seco, sua pilha remédios.

Urge o tempo e apressado,
O executivo, recém acordado
de seu pesadelo de horrores,
Chora por uma voz que aplaque seus temores.
Mas a primeira voz que ouve é a da bolsa de valores.

Juntos, meus senhores,
Nesse perfume de infinitos odores,
Nessa marcha de mil corredores,
Vive o empresário e seus credores,
O executivo e seus temores,
E o operário e seus amores.

No paradoxo da vida e seus sabores,
Ouve-se o rufo dos tambores,
E a sapiência dos oprimidos:
Ao lado das mais lindas flores,
Também nascem podres espinhos.

Um comentário:

Lívia H. disse...

Com versos assim tão doídos, seus poemas mais parecem de música de protesto de 'cancioneros' cubanos.

Mt bom!