quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Meia vela

À luz da meia vela,
Um homem encurvado
Lê um livro desencapado,
Jogado n'um canto da cela.

Vê histórias de homem normais,
Que pela luta honraram a vida,
De fracassos e feridas,
De um jeito que já não se vê mais.

Meia noite, meia vela,
E a escassa meia tigela,
Traz a intragável comida singela,
Que alimenta um sonho inefável;

Meia noite no terreiro,
Onde batem mil tambores,
Que louvam os guerreiros
que suplantaram suas dores.

Cai o homem no açoite!
Cai junto também a noite,
Levando a calma embora,
Como um prelúdio que triste outorga
A chegada da aurora.

Meio dia, meia vida,
E um homem fatigado,
Ouve o escárnio desgraçado,
Do malogrado carcereiro.

Dia duro, dia inteiro,
E o trabalho que muitos consagra,
Esse homem só estraga,
A labuta dura e escrava,
Sob o olhar do carcereiro.

Volta a noite e no terreiro,
O batuque costumeiro,
Aumenta seus tambores,
Que inflam a ferida alma,
Do guerreiro do coração de magma.

Já vem noite, dez da noite,
E ao levantar seu podre chicote,
O carcereiro sente-se em choque,
Pois antagônico ao castigo mortal,
Que aplica banalmente,
Surge na mão do prisioneiro,
Um brilho de metal pungente!

E brandindo seu punhal,
O guerreiro ganha a noite!
E com o grito dos tambores fortes,
Faz repentino, um profundo corte,
Que acaba com a injusta sorte,
Do inverterado animal.

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