quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ha coisas entre o ceu e o mar
que a lingua nao consegue explicar,
que o coraçao nao pode entender,
E que nos fazem sempre chorar.

Um pensamento abafado,
Um choro pesado,
Desaguando um passado
Que triste se perdeu.

No fim, toda história,
toda derrota e toda vitória,
Grudar-se-á na alma
Em forma de memória.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Trabalho

O trabalho enaltece!
Bradam do ócio
e do altar da ciência,
os detentores inglórios,
da sã sapiência.

Mas como que podem
definir, enarrar,
se sabem de tudo,
menos trabalhar?

São tão tolos,
levianos e incipientes,
Não percebem o abismo existente
Entre aqueles que pensam
E aqueles que sentem?

Digo que o trabalho escraviza!
E causa-me até ojeriza,
A execrável situação,
Que se encontram pelas ruas,
Os milhões de irmãos.

Irmãos da miséria,
Da desgraça, da solidão.
Fazem do chão onde o mundo pisa,
A mais simples cama, o mais frio colchão.

E tudo assim, modorrento, permanece...
Acenda tua vela, faça tua prece!
Quem sabe assim o mal se esvaeça,
Ou então mais fácil: você se esqueça,
Que enquanto dorme e a noite enegrece,
O tugúrio velado, cercando-os desce,
E aí já de nada adianta sua prece...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Da tristeza à realeza.

Se um dia, por exemplo,
Eu me quedasse ao relento
Sem mais me preocupar?

E com meus olhos sonolentos
Aproveitasse o momento,
Sem culpa ou penar?

Não quero que seja de cimento
as minhas bases, o meu pilar,
Que seja areia, que seja vento,
Que seja nulo o meu sustento,
Pois só quem finda o apresamento,
Vê-se livre para sonhar...

Ainda que não idolatre a tristeza,
Não busco a felicidade do leviano,
Nem o prazer d'uma hora daquele que ignora,
Fundo em minha alma, agora, tenho só uma certeza:
Mil vezes ser maltratado sob o julgo d'um tirano,
Que banhar-me em sangue humano só pra ser da realeza.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Racionalismo louvável

Acordei hoje cedo
Com uma imperiosa vontade de ser racional,
Já que não existe, nesse mundo tão igual,
Tristeza ou medo, e não é nem segredo
Que nunca houve degredo,
Nem forças opostas do bem ou do mal.

Tomemos como exemplo os moleques largados no chão,
São os mais vagabundos! (Seria absurdo dizer que não)
Olhe, por um momento, seus corpos imundos!
É pura preguiça de quedar-se em um pouco de água e sabão.

Veja lá, no cimento, o moleque sedento!
Que com um banal movimento faz voar o limão,
Que parábola mal feita, que péssimo lançamento!
Oh, inegável animal, como és desatento!

Mas veja que sorte, esse moleque não sofre
Das verdades e incertezas dessa vida tão dura,
Não trabalha, não sua!
E ainda por cima mora na rua.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Harmonia

Tenho em casa um punhado de palavras guardadas.
Tristes, modorrentas, fúnebres e veladas.
São todas expoentes da minha tempestuosa emoção;
De um grito, aflito, um sim ou um não.

Acontece que por mais nuves que queiramos enxergar,
O sol, algumas vezes, insiste em raiar,
E nesse exato momento onde a noite se faz dia,
É que perdem o valor as palavras de agonia.

Antigamente me fluiam palavras tristes,
Como flui, natural, o ar que respiro,
Uma bala, um tiro e à noite um suspiro.

Hoje já não encontro nelas mais nenhuma serventia,
'E olha que hoje chove como há muito não chovia'
De repente se fez ausente toda a harmonia
Que exisita entre elas e minha poesia.

Queria cantar o belo, o bonito e o alegre!
Mas o que é de fato puro não se canta,
Vê, percebe e sempre se espanta,
Pois a música é infinita quando com ela a gente dança.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

5 horas.

5 horas, chove como há muito não chovia,
Abrem-se capas e guarda-chuvas n'uma bizarra sintonia,
E o estrondo que faz a água no metal de meu telhado,
Me deixa retraído, sofrido, enclausurado...

Percebo porém, que o sentimento que me causa a chuva,
Ao invés de medo deveria ser culpa.
O que importa se me abalo com a eterna oscilação,
Fugaz, violenta, de mais uma paixão,
Se na rua, agora, jaz um ser, largado, no chão?

E esse ser é como eu um homem
Mais, poderia dizer,
Sofre de frio, de fome,
Enquanto o que me faz sofrer
não tem forma, nem nome.

Ele sofre mais...
Pois não é por viver largado na cidade,
Que pulse nele a vida como em animais,
Eles, heróis dos sinais,
Também amam, sofrem e sentem saudades.

Tenho mais em comum com esse homem
Que jamais ousaram imaginar,
Pois somos todos meros errantes,
E a comodidade que nos faz distantes,
Tem como areia seu fraco pilar...

sábado, 19 de setembro de 2009

Homem de flores

Branco, rosa e amarelo.
Tríade de cores divinas,
Que enfeitam a barraca de flores,
Sozinha, em minha esquina.

Em tal manancial de odores,
(do campo, de paz, de amores)
Não há nesse mundo, meus senhores,
Quem desconfie que por trás de lírios,
Exista tristeza, abandono e vazio,
Que fazem correr um rio
De pesadas lágrimas doces.

Por trás das vistosas flores,
existe um homem, uma história,
De cansaço, suor e temores.

O homem de trás das rosas,
ganha a vida fornecendo
O amor que lhe foi roubado,
Na forma de margaridas,
Sofridas... Sofrendo...
Sendo vendidas a idiotas,
Por um punhado de trocados.

Somos todos podres flores!
Que mimadas e relocadas,
Perdemos nossos valores.

Pois não são elas,
Arrancadas da firme terra,
Para enfeitarem, dentro de vasos,
As 6 bilhões de janelas?

De que importa, nesse mundo errado,
Nossas vidas e passados,
Se seremos sempre julgados,
pela beleza de nossos vasos?!

Mais ainda vivo de esperança,
Pois vale mais o barro suado
Que o diamante encravejado,
Para os olhos d'uma criança
Uma vez que o barro é solto,
Sempre a ser moldado,
Enquanto o diamante, travado,
É pra sempre estagnado,
Eterna fonte de dores...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pecado?

Um homem que guarda com devido louvor,
O humilde pedaço de pão bolorento,
Ouve assustado e com estopor,
As hienas circulando-o com seu grito nojento:
És podre, és pobre, pecador avarento!

E quando nosso amigo, feliz e contento,
Com sua companheira se amam ao vento,
Crocitam os corvos pungentes tala agulha;
És fraco, és crasso, és pura luxúria!

E o irmão do campo que todo dia se aleja,
A arar terra alheia com o estomago vazio,
Vê o senhor coronel, gordo em fastio
E ao comparar tal riqueza com sua vazia tigela
Chingam-lhe os urubus, parados na janela;
Pecador, imoral, lotado de inveja!

E ao comer sem descanço,
Com as mãos sua quentinha,
Silvam as cobras peçonhentas no canto,
Malogram a criança de vida tão dura;
És podre, nojento! Recheado de gula!

E aindo o irmão que labuta de sol a sol,
Rachando, incessante que a todos agita
Ouve triste o julgo do rouxinol,
Que magnâmio de cobiça, que estraga, ele grita;
Malandro, vagabundo, o que tens é preguiça!

E se uma noite inocente,
O irmão sente a porrada estridente,
Do monstro policial,
E enraivado o desarma e sem pensar atira.
Fala a sociedade, de sapiência infinita;
És crime, imagine... Caso de ira!

E dessa lista de sete,
De veracidade incerta,
Só um dentre todos os falta,
A soberba de todos, que sempre os testa!
Pois o irmão que se vê com devida prosperidade,
Faz sem pensar o que não lhe foi feito,
Vai às ruas dessa hedonista cidade;
Pra ver, viver, respirar caridade.

Então cabe à mim, a você ou a nós?
Julgar e descriminar sem ter porque,
O homem largado que vive à merce,
Sozinho, sempre, sob o manto lunar...