quarta-feira, 20 de maio de 2009

Trança de vida

Olho pros lados na procura por ajuda,
Só vejo sombra, que profunda perdura.
Na noite augusta, que atacados em lança,
São todos aqueles que dançam na trança,
E lhes vem à cabeça, lhes choca, espanta,
Um grito, d'um canto, luta por esperança,
Transmitidos no choro infeliz d’uma criança.

E o que mais me deprime, não é a maldade que devagar se semeia,
É a falta de coragem, opressora, que rodeia.
De gritar, ir a luta, por tudo que anseia.

E essa roda infinita, que abafa, limita,
Que a todos atrai, algoz aconchego,
Àqueles que cedo, já sofrem por medo,
E deixam-se rodar, e controlar a vida.

Necrose premeditada, que mata amansando.
A alma, a vida e todos os sonhos.
Trocados por uma reta, invariável.
Para sempre constante, inexorável.

Como um corredor que corre sem parar
Que olha a seu lado, e se vê rodeado,
De um tempo nublado, n’um horizonte fechado.
E a angustia aumenta, quando o silêncio enfrenta
O grito de medo, que na garganta se assenta.

E vê sua vida, seu mundo, tudo acabado.
E é devagar que rola, uma lágrima salgada,
Pela pálpebra aberta de uma pupila fechada.
Sente-se preso, por todo acorrentado,
E devagar lança um olhar ao passado,
E sua angustia é tanta, que se sente roubado.
Pois vê apenas um final infeliz, de um filme alugado.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Vazio.

Só queria que alguém visse tudo aquilo que não foi dito,
Que na garganta agarrou e dissipou-se pro infinito.
O que a na caneta entupiu e que nunca foi escrito.

sábado, 16 de maio de 2009

Era nada, só fluidez,
corria pelos campos como quem respira muito fundo
Por saber ser a ultima vez.
Correndo era livre, era só possibilidades,
Esquecia da pobreza e de todas suas necessidades.

Não tinha nome, endereço ou idade,
Era apenas por ser, extintas todas mediocridades,
Tudo era música a seus ouvidos, reinava plena a felicidade.
E de repente aquele barulho, acordava-o na madrugada.
Vinha o cheiro do lixo, a solidão e o frio da calçada.

E a música que o acalmava, tornara-se seu tormento.
Estridente como um trovão, mudava tudo em um momento.
A sirene malograda, e o turbilhão de sentimentos.
Daquela noite tão triste, que fora pego pela primeira vez.
Por que? Ele se perguntava, se nada tinha feito.
Não obstante, batiam-lhe, e riam com seus risos nojentos.

Socos, pontapés, vinham de toda direção,
Porém não soltara um grito, ou qualquer exclamação
A raiva que sentia suplantava seu horror,
Batiam-lhe sem motivos, só para infligirem-lhe dor.
Desgraçados, amaldiçoara-os todos, do âmago de sua humilhação.

Enquanto tantos roubavam e matavam o povo,
Por que ele, que era só um garoto?
Que vontade de gritar, de acabar com tudo isso,
Para os piores a impunidade, para os pobres pura maldade.
Sentia-se ruir em torno desse conflito.

Era mais pena do que raiva, o que ele sentia.
Do fundo da sua desgraça, parava e refletia.
Sobre a desgraça por todo o mundo, mascarada em hipocrisia.
Sobre a humanidade e seus tugúrios,
Tais como um fruto podre, que por fora vai ficando duro.
Mas uma chama o mantinha vivo, e alimentava-o a cada segundo.
Por mais que eles tentassem, ninguém mata o futuro.

E aceitava sua dor, e toda humilhação,
Se servisse de exemplo e acordasse toda a nação.
Era mais um pobre que morria, sem dó ou compaixão.
Morreu com um sorriso estampado, e leve de coração.
Morria por seu povo, pela causa, por seus irmãos.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Veja bem querida, ninguém é melhor que ninguém.
Não é a extensão d’uma conta que valoriza o homem
Não é nem mesmo a sua família, ou seu famoso sobrenome,
Muito menos sua superioridade a todos aquém..

Quisera eu, poder falar das coisas bonitas que a todos rodeiam,
Das rosas, dos pássaros que com seus cantos gracejam.
Porém não posso, infelizmente
Visto que, no frio da madrugada, inexoravelmente
Padece um infeliz, guardado por uma sacada.

E quebra a cabeça, e sua precária educação.
Como que pode um morrer de fome
Enquanto outro tranca comida n’um galpão.
Simples, sem rodeios ou enganação.
Simples é o que nos alimenta, simples é o pão.
Crápula, nojento, é o que pensa só em si a todo momento.
Completamente consciente, que pra seu maldito sucesso,
Vivem mais de cem, com fome, sem teto.