quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Da tristeza à realeza.

Se um dia, por exemplo,
Eu me quedasse ao relento
Sem mais me preocupar?

E com meus olhos sonolentos
Aproveitasse o momento,
Sem culpa ou penar?

Não quero que seja de cimento
as minhas bases, o meu pilar,
Que seja areia, que seja vento,
Que seja nulo o meu sustento,
Pois só quem finda o apresamento,
Vê-se livre para sonhar...

Ainda que não idolatre a tristeza,
Não busco a felicidade do leviano,
Nem o prazer d'uma hora daquele que ignora,
Fundo em minha alma, agora, tenho só uma certeza:
Mil vezes ser maltratado sob o julgo d'um tirano,
Que banhar-me em sangue humano só pra ser da realeza.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Racionalismo louvável

Acordei hoje cedo
Com uma imperiosa vontade de ser racional,
Já que não existe, nesse mundo tão igual,
Tristeza ou medo, e não é nem segredo
Que nunca houve degredo,
Nem forças opostas do bem ou do mal.

Tomemos como exemplo os moleques largados no chão,
São os mais vagabundos! (Seria absurdo dizer que não)
Olhe, por um momento, seus corpos imundos!
É pura preguiça de quedar-se em um pouco de água e sabão.

Veja lá, no cimento, o moleque sedento!
Que com um banal movimento faz voar o limão,
Que parábola mal feita, que péssimo lançamento!
Oh, inegável animal, como és desatento!

Mas veja que sorte, esse moleque não sofre
Das verdades e incertezas dessa vida tão dura,
Não trabalha, não sua!
E ainda por cima mora na rua.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Harmonia

Tenho em casa um punhado de palavras guardadas.
Tristes, modorrentas, fúnebres e veladas.
São todas expoentes da minha tempestuosa emoção;
De um grito, aflito, um sim ou um não.

Acontece que por mais nuves que queiramos enxergar,
O sol, algumas vezes, insiste em raiar,
E nesse exato momento onde a noite se faz dia,
É que perdem o valor as palavras de agonia.

Antigamente me fluiam palavras tristes,
Como flui, natural, o ar que respiro,
Uma bala, um tiro e à noite um suspiro.

Hoje já não encontro nelas mais nenhuma serventia,
'E olha que hoje chove como há muito não chovia'
De repente se fez ausente toda a harmonia
Que exisita entre elas e minha poesia.

Queria cantar o belo, o bonito e o alegre!
Mas o que é de fato puro não se canta,
Vê, percebe e sempre se espanta,
Pois a música é infinita quando com ela a gente dança.